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  • Foto do escritorJorge De Barros

Capitão Costentenus (conto)

Tinha 388 tatuagens, com desenhos de toda fauna e flora asiática, formas geométricas, símbolos misteriosos. Eram autênticas e raras tatuagens birmanesas, de quando fora preso em Bhamo. A expedição francesa que ele compunha foi considerada hostil pelo rei de Burma.

Mas ele tinha mais histórias que desenhos no corpo. A mais comum era que os birmaneses ofereceram a ele diversas possibilidades de execução: empalamento, vespas, tigres, fogo, veneno... mas entre as possibilidades havia tatuar o corpo inteiro, dolorosamente. Dois outros prisioneiros, que eram franceses, preferiram a morte, mas ele não! Preferiu encarar os três meses de escarificações dolorosas e em condições precárias. Enfim, por ter sido corajoso e não chorar em nenhum momento, deixou admirados seus torturadores e foi libertado por sua bravura.

Havia variações: mudava o número de prisioneiros (chegava até vinte); em vez de libertado, às vezes fugia; também dizia que as tatuagens faziam parte de um ritual para uma obscura divindade do oriente e que, antes que o sacrificassem, conseguiu escapar. Outras vezes contava ter passado por uma fase miserável, vagando por uma cidade tailandesa, tão entupido de ópio que, quando acordava, percebia uma tatuagem nova, ou também que fizera parte de um grupo de piratas viciados e sem dinheiro, que apostavam tatuagens entre si.

Certa vez, meio embriagado, contou que tinha servido de cobaia a um mestre tatuador birmanês e que, durante alguns meses, teve uma vida luxuosa e tranquila enquanto os aprendizes o faziam de tela. Ali mesmo planejou se tornar atração de circo. Era melhor que a vida de soldado ou de pirata.

Que importa a verdade? Sabe-se apenas que o Capitão Costentenus falava inglês, francês, árabe, grego, persa, espanhol e alemão, fluentemente e que, em 1894, já como cidadão americano, solicitou um passaporte e nunca mais foi visto.


Jorge de Barros




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